domingo, 20 de março de 2011

Deveria ser suficiente

Texto da autoria de Anna T. 
"A maior parte das mulheres tem muito que fazer em casa, e não estou apenas a falar das mães de crianças pequenas. Na verdade, as mães com filhos pequenos têm muitas vezes de se limitar a fazer apenas o essencial em casa, para além das inúmeras tarefas directamente relacionadas com os filhos.

Vem depois uma fase da vida em que a mulher tem mais tempo à sua disposição. Normalmente isso acontece quando os filhos crescem e saem de casa e quando ela já aprendeu a fazer as suas tarefas domésticas de forma tão eficaz que acaba por ter mais tempo livre. No entanto, é também uma fase da vida em que a mulher, embora ainda longe da velhice, normalmente beneficia com um ritmo mais lento.

Talvez algumas mulheres recém-casadas e ainda sem filhos também tenham mais tempo livre mas penso que isso dependerá em grande medida do quão preparadas elas estão para tomar conta de uma casa. Pessoalmente, sinto como se tivesse mais tempo agora do que quando ainda não tinha filhos, isto porque, graças a Deus, já aprendi muito (embora ainda tenha muito mais a aprender).

Mas fico sempre incomodada com o tão apregoado sucesso das mulheres que conciliam vida familiar e carreira, especialmente quando se fala de mães com famílias numerosas. Tenho muitas dúvidas em relação à utilização da palavra "sucesso" nestas circunstâncias, porque é muito difícil avaliar, para quem está de fora, qual o preço que uma família tem de pagar por causa dos objectivos profissionais de uma esposa e mãe.

Quando esta questão surge, por exemplo em entrevistas, e se pergunta à mulher como ela consegue "conciliar tudo", normalmente ouvimos respostas vagas como "tenho uma família que me apoia muito". Mas o que significa isso na realidade? Ou então ouvimos respostas do género "eu não faço bolos, é assim que tenho tempo". Será que é só disso que se trata? Porque será que tão poucas mulheres estão dispostas a falar sobre o stress inerente a esta tentativa de equilibrar o cuidado de um lar e uma carreira? Ou sobre o facto de terem tido que deixar os seus bebés ao cuidado de outras pessoas pouco tempo depois do seu nascimento? Será que tiveram de desistir de amamentar? E quais foram os benefícios físicos e emocionais de tudo isto? As pessoas gostam de contar a história da cientista de renome mundial que é também mãe de dez filhos. Sim, esses são os factos vistos a seco. Mas qual é o verdadeiro preço a pagar? Sim, ela teve dez filhos, mas quanto tempo passou com eles quando precisavam de si?
Também não deveríamos esquecer que nem todas temos o mesmo nível de excelência e de energia. Nem todas poderíamos ter um sucesso profissional surpreendente, ainda que nos dedicássemos de corpo e alma a isso. Actualmente acredita-se que é melhor termos alguma actividade fora de casa do que dedicarmo-nos à casa e à família. E o valor de uma esposa e mãe é cada vez mais medido pelo valor do seu rendimento.

Há sempre muito que fazer em casa e se alguém diz que o trabalho em casa não toma muito do nosso tempo, ou não sabe do que está a falar, ou então é preferível que admita que escolheu negligenciar alguns aspectos do seu trabalho doméstico para se dedicar a outros objectivos, o que tem naturalmente todo o direito a fazer, uma vez que todos temos prioridades diferentes. Para o meu marido, a limpeza e a ordem são muito importantes mas há outros homens que não se importam que as suas mulheres usem o seu tempo em outras actividades.

Quanto ao cuidado dos filhos, esse é sem dúvida alguma um trabalho a tempo inteiro. As crianças não são janelas que possamos deixar por limpar até que seja impossível ver através delas, nem cotão que se possa acumular debaixo do sofá durante anos. Claro que a criança será sempre cuidada, mas por quem? Pela sua mãe (que é a situação mais normal, natural e desejável) ou por uma pessoa estranha que pode ser "profissional" mas que o faz por dinheiro? Cuidar dos filhos e de uma casa é uma carreira. Exige tempo, é um desafio mas é também recompensador. Deveria ser suficiente, não apenas para as mulheres, mas também para aqueles que se questionam sobre o que ocupa uma mulher em casa. 
Uma mulher que trabalha fora de casa pode contribuir para o orçamento familiar se o seu salário for significativo em comparação com o do seu marido. No entanto, há muitas famílias em que a suposta influência desse rendimento adicional é exagerada, porque o mesmo é quase exclusivamente gasto em despesas relacionadas com esse trabalho fora de casa, como o infantário ou um segundo carro, ou em luxos que "podemos pagar porque trabalhamos tanto", como viagens caras para o estrangeiro. Há muitas e muitas famílias que, a longo prazo, teriam uma situação financeira muitíssimo melhor com uma mãe em casa e um único ordenado sabiamente gerido.»

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